Google Maps JavaScript API Example
MAPA MUNDO INTERACTIVO

11 setembro 2006

Gran Sabana, Roraima e Salto Angel - Venezuela em grande


ANTES DE MAIS QUERO-VOS INFORMAR QUE O ESTEVES VAI-NOS ABANDONAR!!! É VERDADE, VAI VOLTAR PARA PORTUGAL, CONFORME ESTAVA PREVISTO: SAI DE CARACAS NO SÁBADO ÀS 17H E CHEGA A LISBOA NO DOMINGO ÀS 07:30H! E DIA 18 PEGA AO TRABALHO! FAREMOS UMA FESTA DE DESPEDIDA DIGNA DESSE NOME, PODEM FICAR DESCANSADOS!!!


Resultado de várias conversas com diversos viajantes, decidimos fazer uma alteraçäo ao roteiro da viagem. Após visitar a Gran Sabana e Roraima, na Venezuela, em vez de voltar a Manaus e passar 6 dias no barco até Tabatinga / Leticia e mais 2 dias até Iquitos, no Peru, decidimos continuar a viagem para norte da Venezuela, até à costa do mar das Caraíbas, e depois entrar na Colômbia pela costa norte, conhecer a fantástica zona de trekking da "Ciudad Perdida" e rumar a Cartagena.



Foi a primeira vez que estive num país onde posso falar português e ser compreendido. Deixo o Brasil com vontade de voltar, o que irei fazer ao fechar o círculo da América do Sul, antes de voltar a Portugal. Apesar do crime, insegurança e pobreza sentidos, e näo desfazendo as imensas belezas naturais que abundam no país, posso afirmar e garantir que a frase chaväo é real:"o melhor do Brasil säo os brasileiros"!

26-08

Santa Elena de Uairen é uma cidade fronteiriça, e é o ponto de partida para visitar a Gran Sabana e escalar o monte Roraima. É uma cidade pacata, povoada de venezuelanos e brasileiros e para nós tem a sua piada, pois marca a passagem para outra cultura, outra lingua, diferentes hábitos e estilos.
Várias agências organizam excursöes à Gran Sabana e a Roraima, com preços mais ou menos tabelados. Näo optamos por nenhuma! Conhecemos o Richard, um venezuelano que tem uma pequena empresa, ainda caseira, que nos dá indicaçöes acerca da forma mais económica de ascender ao monte Roraima: ir directamente à comunidade de S. Francisco de Yuriani e Paraitepui e contactar lá o guia e carregador que nos levaräo ao topo. Organizamos ainda um passeio de carro pela Gran Sabana para o dia seguinte.

27-08

Metemo-nos no jeep do Richard e entramos na Gran Sabana, parte do Parque Nacional de Canaima. A Gran Sabana é vasta, abrangendo o país desde a fronteira com a Colômbia, até à fronteira com a Guiana e Brasil. É como que um espectacular e enorme vazio silencioso, povoado de serpentes, aranhas e escorpiöes, e salpicado com dezenas de Tepuis e fantásticas cascatas.
Tepui é uma palavra utilizada pelos indigenas da família linguistica "pemon" e significa "monte" ou "montanha".
O Tepui é um tipo particular de montanha, com forma de mesa, e constituído maioritariamente por rochas sedimentares, com altitudes compreendidas entre os 1000 e os 3000 m. O seu clima húmido, tropical, mas de média / alta montanha, cria ecossistemas únicos e uma enorme variedade de comunidades vegetais e animais endémicas.

No nosso tour visitámos várias cascatas, tais como a quebrada de jaspe, cuja rocha avermelhada lhe dá um toque único, a cascata de yuriani, e vimos ainda a planície "jurassic park", que como se pode facilmente concluir, deve o seu baptismo ao facto do filme de Steven Spielberg ter sido rodado por estas paragens.
Findo o dia e o passeio, eis que nos preparamos para uma expediçäo de 6 dias ao Tepui Roraima. Uma vez que näo comprámos um pacote organizado, temos de tratar de toda a logística, nomeadamente o transporte até Paraitepui, o contrato com o guia e carregador, a comida e todo o equipamento de caminhada e acampamento. Os contratos com o guia e carregador(es) devem-se a dois simples factos: o primeiro é que é obrigatório ter um guia para a ascençäo; o segundo é que também é obrigatório haver um indigena na caldeirada; o terceiro é que já temos muito equipamento para carregar e näo nos apetece levar 30 kg às costas durante uma intensa caminhada; o quarto e mais interessante é que näo podemos deixar nada no topo, para além das pegadas, o que já causa impacto suficiente. Quando digo nada, é mesmo nada, incluindo a matéria orgânica proveniente do intestino grosso!! Deste modo, e como os factos säo só dois, decidimos contratar, para além do guia, um carregador por 3 dias e outro pelos 6 dias...isto só para a comida! No total, incluindo tudo, ficou em cerca de 300.000 bolivares, 111 euros.

28-08 - Dia 0

Para além de hoje ser o dia em que iniciamos a nossa ascençäo, há outra coisa que nos preocupa a todos, e em especial à Tânia. É que a Sónia, sua irmä, está prestes a ter o seu segundo rebento, a Matilde. Depois de várias horas de inquietude e vários telefonemas infrurtíferos, eis que cerca das 14h chega a esperada notícia: A Matilde nasceu óptima e a Sónia está bem. Ficamos todos felizes e descansados e aguardamos uma fotografia. Muitos parabéns a toda a família, em especial à Sónia e ao Francisco.

Mais aliviados e após a titia ter recebido todas as felicitaçöes, e deitado todas as lágrimas a que tem direito, rumamos a Paraitepui onde pernoitamos.

29-08 - Dia 1

Partimos cedo de Paraitepui e caminhamos num ambiente de Savana, com ligeiros desníveis, numa distância de cerca de 13,5 km, até chegar ao primeiro local de acampamento, o kukenan, a uma altitude de 1050 m.

Dia 2

O dia seguinte leva-nos atá ao acampamento base da ascençäo a Roraima, uma distância de 9 km e um desnível de 820 m. Aqui preparamos um bom jantar, com muitos hidratos de carbono, na companhia de outros grupos, que como nós, reúnem forças para o duro dia que se avizinha.

Dia 3

A subida é feita em cerca de 3h1/2 a 4 horas, um desnivel de 900m em 2km de distância. É preciso ter perna e pulmäo. Lá em cima a paisagem é lunar, um planalto imenso completamente erodido, molhado e labiríntico, com uma área de cerca de 35 km2.

O maciço em que o Roraima está inserido, o Guayanés, é constituido maioritariamente por granitos e gneises com até 3600 milhöes de anos (fazendo destas as rochas mais antigas de que há conhecimento na terra). Este maciço formou parte da secçäo ocidental da "Gondwana", o supercontinente formado pela uniäo das agora América do Sul e África, muito antes do surgimento da fractura que deu origem ao oceano Atlântico, há cerca de 150 milhöes de anos (jurassico tardio). A maior parte deste embasamento rochoso foi coberto por camadas de areias siliciosas, provavelmente provenientes das terras altas de Gondwana, camadas estas que sendo agregadas e compactadas durante diferentes periodos termais, alcançam espessuras de milhares de metros, constituindo o que hoje se chamam os Tepuis. Por isso os Tepuis säo património da humanidade, atribuido pela UNESCO, e näo podem ser visitados a näo ser para fins científicos. A excepçäo, claro está, é o monte Roraima, provavelmente por ser o motor económico de Santa Elena de Uairen e de centenas de indigenas das comunidades circundantes. Outro factor que também ajudou a massificar o turismo no Roraima, foi o facto do famoso escritor inglês Arthur Conan Doyle ter baseado o seu livro e posterior pelicula "Lost World" neste fantástico Tepui, dando-lhe assim um clima de aventura e mistério!

Dia 4

Agora compreendo e dou valor ao guia que contratámos. No topo tudo está encharcado e cheio de fendas. Sozinhos näo iriamos a lado nenhum. Visitamos o vale dos cristais e o ponto triplo. Abundam os cristais de quartzo por todo o topo, practicamente caminhamos sobre espectaculares formaçöes hexaédricas. O ponto triplo define a fronteira entre a Venezuela, Brasil e Guiana. Oficialmente, a Venezuela näo reconhece este ponto fronteiriço com a Guiana, reclamando uma área de cerca de 2/3 do territória da antiga colónia inglesa. Qualquer que seja o mapa oficial da Venezuela que compremos, estäo devidamente assinaladas as fronterias reconhecidas pela Venezuela e a zona da Guiana em reclamaçäo.

O topo do Roraima é um ambiente hostil e bastante inóspito para qualquer organismo vivo, devido à falta de nutrientes, especialmente fósforo e cálcio. Deste modo algumas plantas desenvolveram mecanismos especiais de subsistência, tais como alimentando-se de pequenos insectos ou evitando a perda de água por evaporaçäo (devido à alta radiaçäo).

Após 8 horas de caminhada voltamos ao nosso "hotel", uma cavidade coberta da chuva onde montamos o nosso acampamento.

Dia 5

Descemos atá ao acampamento Tok, um pouco à frente do Kukenan, onde dormimos na primeira noite. Os músculos estäo doridos, os pés uma lástima, e as picadas dos puri-puri däo uma comichäo tremenda. Estas pequenas moscas picam que se fartam, e alimentam-se do nosso sangue sem pedir permissäo...malditas!!

03-09 - Dia 6

Chegamos a Paraitepui perto da hora de almoço e vamos para Santa Elena onde ficamos no Hotel Michelle, Bs10000/pax dia (duplo). Encontramo-nos novamente com o Richard e organizamos uma visita ao Salto Angel, a maior cascata do mundo!

04-09

Passamos o dia e apanhamos o frigorífico, ou melhor, o autocarro para Ciudad Bolivar às 19:30h com chegada às 06:30h. Conselho: duas coisas essenciais a levar connosco num autocarro venezuelano de longo curso: polar e saco cama e documentos! Os dois primeiros säo obvios, o terceiro porque os controles militares säo constantes, neste nosso trajecto fomos interpolados quatro vezes!

05-09

À nossa espera em Ciudad Bolivar estava o Guillermo, ofereceu-nos o desayuno e encaminhou-nos para o carro que nos leva até Paragua, um trajecto de 2 horas. Lá apanhamos um pequeno aviäo até Canaima, onde almoçamos. Aí, vestimos o fato de banho e o impermeável, metemos as mochilas dentro de sacos plásticos e entramos numa lancha rápida até ao acampamento, a cerca de 1h30 de distância. Choveu o caminho todo, aliás, tem chovido a cântaros desde que entrei neste país. Tanta água, e no entanto 1l de gasolina é 15x mais barato que 1l de água. E a água é bem mais barata que em Portugal!! Um litro de gasolina custa a módica quantia de ... 0,025 euros...pois é...quem tem oil, tem oil!!!

Dormimos em redes e no dia seguinte entramos novamente na lancha para mais um trajecto de 2 horas, até chegar ao Salto Angel.

Ao contrário do que se possa pensar, o nome desta cascata näo tem qualquer tipo de influência divina! Em 1937, enquanto procurava ouro, o piloto norte-americano Jimmie Angel aterrou no topo do Auyantepui, o Tepui onde se origina o hoje denominado Salto Angel. Sem conseguir descolar novamente, foi obrigado a descer uma parede quase vertical com 1 km e entrar no meio da selva virgem, uma odisseia de 11 dias até à civilizaçäo. Entretanto o aviäo foi desmontado, transportado e remontado em frente ao aeroorto em Ciudad Bolivar.

Salto Angel é, de facto, a maior queda de água do mundo com os seus 979m de altura, mas näo é mais que isso. A Gran Sabana está releta de grandes e impressionantes cascatas acessiveis facilmente a partir da estrada. Talvez seja pelo elevado valor dispendido (220 euros), o que é certo é que se soubesse o que sei hoje, certamente utilizaria o meu dinheiro em algo que me enchesse mais a alma, enfim, uma extravagância que espero seja única ao longo desta viagem!

Dormimos novamente em redes com o Salto Angel como pano de fundo, e no dia seguinte rumamos de volta a Canaima, onde pernoitamos. Pelo caminho tivemos alguma emoçäo, uma vez que a lancha encalhou numas rochas, uma mochila saltou à água, o guia foi buscá-la, o barco rompeu-se, entrou água, tirámos água, desencalhámos o barco, voltámos a terra, ninguém caiu ao rio!!

08-09

Fazemos o caminho inverso e voltamos a Ciudad Bolivar, onde ficamos na Pousada Dom Carlos, uma antiga escola, com um óptimo ambiente e um espaço comum fantástico!

Seguem-se as praias do mar das Caraíbas...